Fertilidade de mulheres com câncer de mama pode ser preservada
Técnicas de reprodução assistida permitem que pacientes oncológicas mantenham vivo o desejo da maternidade
A conscientização sobre a importância da mamografia e do diagnóstico precoce do câncer de mama são a tônica do Outubro Rosa. Contudo, outro aspecto também merece atenção, embora nem sempre seja discutido: a preservação da fertilidade. Parte das mulheres diagnosticadas com câncer de mama encontra-se em idade reprodutiva e ainda têm planos de ter filhos. Muitas delas não têm conhecimento de que os tratamentos oncológicos, como radioterapia e quimioterapia, podem causar infertilidade.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é a neoplasia maligna mais incidente em mulheres na maior parte do mundo. No Brasil, as estimativas de incidência de câncer de mama para o ano de 2019 são de 59.700 casos novos, o que representa 29,5% dos cânceres em mulheres. Considerando que 85% a 90% das pacientes jovens com essa patologia ficarão curadas, a maternidade pós câncer se torna um fator importante a ser levado em consideração no que diz respeito aos anseios e a qualidade de vida destas mulheres.
“Existem técnicas que podem preservar a oportunidade da maternidade futura para mulheres jovens diagnosticadas com câncer de mama”, esclarece Dr. Mauricio Chehin, médico especialista em reprodução assistida e coordenador do projeto de Oncofertilidade da Huntington Medicina Reprodutiva. A escolha do melhor método deve ser feita em conjunto com o especialista de Reprodução Humana e o Oncologista, e aplicada antes da etapa de quimioterapia, complementar à cirurgia da mama.
Hoje, o tratamento de preservação da fertilidade conta com técnicas avançadas, dando às pacientes tempo hábil para realizar o congelamento de óvulos ou embriões antes dos procedimentos quimioterápicos ou radioterápicos. Um dos métodos mais comuns escolhidos pelos médicos especialistas em reprodução assistida é a vitrificação de óvulos, técnica de congelamento ultrarrápido que é menos prejudicial aos gametas.
O procedimento é feito entre 10 e 15 dias antes do início do tratamento com quimioterapia, e pode ser realizado em qualquer fase do ciclo sem que a mulher tenha que esperar a próxima menstruação. Os óvulos obtidos são preservados em tanques de nitrogênio em baixíssimas temperaturas por técnicas que não danificam as células. Embora o uso de hormônios para indução de ovulação e obtenção de um maior número de óvulos possa ser visto com cautela pelas pacientes que estão tratando o câncer de mama, já se tem o conhecimento de que este uso é seguro, e junto aos hormônios são utilizadas medicações que impedem qualquer ação destes na mama.
Na Huntington Medicina Reprodutiva, levantamento dos últimos cinco anos mostra que o número de pacientes que congelaram seus óvulos aumentou. No ano de 2014, 108 mulheres realizaram o processo de congelamento dos óvulos e, desde então, até o primeiro semestre de 2019, mais de 1.250 procedimentos foram realizados, sendo que 8% foram em decorrência do diagnóstico de câncer de mama.
Apesar de o congelamento de óvulos ser o método mais comum de preservação para as pacientes com câncer de mama, existem situações para as quais a técnica não é a mais indicada. Caso a paciente for uma menina jovem, que ainda não atingiu a puberdade, o que é muito raro no câncer de mama, e mais comum em casos de canceres hematológicos, como leucemia e linfoma, ela não pode ser estimulada com hormônios. Outro cenário é quando a paciente precisa começar o tratamento com urgência e não há tempo hábil para aguardar os 10 a 15 dias necessários para o congelamento de óvulos. Nesses contextos, é recomendada a criopreservação de tecido ovariano. O procedimento é cirúrgico e leva um dia para ser feito. Parte ou um dos ovários são retirados e o tecido ovariano é preparado e criopreservado. Após a liberação do oncologista, são descongelados e reimplantados tiras milimétricas do tecido ovariano no ovário contralateral remanescente ou mesmo em outros locais da pelve feminina para tentar a gravidez. O tecido pode levar de três a quatro meses para recuperar suas funções hormonais e, após esse período, é possível ovular e tentar a concepção.
“Mesmo em um momento delicado como esse na vida de uma mulher, o risco de infertilidade deve ser apresentado pelos médicos que acompanham seu tratamento. A chance de cura é alta e opções de tratamentos para preservar a fertilidade não faltam. Trata-se de uma oportunidade para escolher, no futuro, qual caminho seguir, ampliando as possibilidades de ter filhos”, finaliza Dr. Chehin.
Dr. Maurício Chehin