Quando as novas regras do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre a reprodução assistida entraram em vigor, muitas mulheres se sentiram contrariadas. Agora, aquelas que pretendem ter filhos com 50 anos, ou mais, precisam da aprovação do Conselho para se submeter às técnicas de reprodução humana. A nova realidade foi vista, por algumas delas, como uma interferência arbitrária na escolha individual para se tornar mãe – um direito feminino.
No entanto, essa regra não foi um mero capricho do órgão regulador ou uma ofensa deliberada aos direitos da mulher. A nova norma foi criada visando a saúde feminina, levando em conta a análise de dados coletados das próprias clínicas brasileiras de reprodução humana, além de estudos que comprovam que pode ser perigosa uma gestação nessa faixa etária.
Doenças como hipertensão, diabete gestacional e os partos prematuros são mais frequentes nessa idade e se tornam um risco iminente para mãe e para o bebê. O propósito de filtrar os tratamentos de reprodução assistida para mulheres acima dos 50 anos é, então, uma forma de posicionar a vida como prioridade, e evitar um processo que poderia colocá-la em perigo. Para as mulheres que estão veementemente decididas a engravidar nessa faixa etária, ainda é possível submeter o pedido ao CFM e, se comprovado que a saúde da paciente permite a gravidez, ela poderá ir adiante com os procedimentos.
Curiosamente, a decisão vem dentro de um interessante panorama da sociedade moderna: a maternidade é realizada cada vez mais tarde porque, sim, a mulher se tornou mais independente e quer parceiros e carreiras que caibam dentro de suas vontades, antes da chegada dos bebês. Algumas delas, no entanto, superestimam suas funções biológicas, e querem ser mães em faixas etárias em que os índices de gravidez não são mais comuns, mesmo com os avanços da medicina reprodutiva. Por esse ângulo, a decisão do órgão médico em estabelecer um limite de idade às mulheres que desejam engravidar através da reprodução assistida compreende uma sensata preocupação.
Por isso, uma das alternativas para muitas candidatas à maternidade em idade madura é se precaver quanto aos potenciais reprodutivos, realizando exames que possam indicar a quantidade e qualidade dos óvulos, além das condições do sistema reprodutor. Com esse check up da fertilidade e o acompanhamento de um médico especialista, a paciente terá uma boa estimativa de até que idade pode ter filhos sem maiores problemas.
Dr. Mauricio Chehin, especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington.