Esse final de semana fui até o Sul para a comemoração do aniversário de 60 anos do meu pai. A família estava toda reunida, esposa, 3 filhas casadas e um neto de 7 meses. Em meio às brincadeiras sobre como ele passou a ser agora “idoso”, perguntei ao meu pai como ele se imaginava aos 60 anos quando era mais jovem. Ele mais que depressa olhou para mim e para minhas irmãs e disse: Com muitos netos!!! Vocês estão muito atrasadas porque acabei de ganhar um somente esses dias. Olhei para minhas irmãs que estão com 31 e 27 anos e vi claramente na expressão delas que a cobrança as desagradou pois sei que ter filhos não passa pelos seus planos de futuro próximo.
Passadas as comemorações chamei as minhas irmãs para uma conversa, desta vez mais como médica especialista em medicina reprodutiva do que como irmã ou amiga. Conversamos muito sobre a implacável e cruel influência que o tempo tem sobre a fertilidade feminina e que o ideal, biologicamente falando, é que a mulher tenha os seus filhos até os 35 anos.
Minhas irmãs claro que já sabiam que perdemos a fertilidade com o passar dos anos mas notei que só depois desta conversa pararam para fazer as contas…Querem ter dois filhos cada uma mas a mais nova quer fazer uma pós-graduação e a mais velha quer curtir o marido e se dedicar mais ao trabalho. E daí como vai ser possível fazer tudo isso e ainda ter os dois filhos até os 35 anos? E é essa a realidade da mulher de hoje. Encontrar o príncipe encantado, casar, ter uma boa posição no trabalho e para isso estudar muito, leva um certo tempo.
Com isso se torna cada vez mais difícil seguir a nossa biologia e termos filhos até os 35 anos. Não estou dizendo que uma mulher após os 35 anos não possa ter filhos, o que não é verdade, mas a chance de ter alguma dificuldade é muito maior. Nesse sentido considero que o meu papel mais importante é a orientação das mulheres para que sejam “guardiãs” da sua fertilidade. Se seguir a natureza ideal do relógio biológico dos nossos óvulos não for possível porque não fazer o relógio parar? O congelamento dos óvulos nada mais é do que isso. Se uma mulher congela seus óvulos com 33 anos, terá aos 38 anos quando desejar engravidar as mesmas chances que tinha aos 33 se usar os óvulos que tem congelados.
A vitrificação é uma técnica de congelamento de óvulos segura, eficaz e disponível atualmente para a preservação da fertilidade. O ideal é que os óvulos sejam congelados até os 35 anos quando as taxas de gravidez após seu descongelamento atingem cerca de 45% por tentativa, as melhores possíveis com este tratamento. Mas se a mulher já passou dos 35 anos e ainda pensa em engravidar um dia é melhor congelar os óvulos do que esperar o momento “certo” para engravidar e se deparar com a falta deles .
É sempre importante enfatizar que nenhum tratamento em medicina reprodutiva é garantia de gravidez e isso também é verdade para o congelamento de óvulos. Mas é incrível pensar que aos 40 anos quando as chances de gravidez se aproximam a 10% por tentativa de fertilização in vitro, podemos aumentar essa porcentagem para 45% se essa mesma paciente tivesse congelado seus óvulos aos 34 anos.
Daí a importância da divulgação dessa informação para toda a sociedade e não somente para o meio médico. Amanhã, dia 08 de março, comemora-se o Dia da Mulher. Quero aproveitar esta data para reforçar meu pedido para que cada amiga, irmã ou mãe possa conversar sobre isso em seus encontros e para fazer com que nós, mulheres modernas, possamos realizar o sonho da maternidade no melhor momento possível de nossas vidas independente do julgamento do nosso relógio biológico.
Feliz Dia da Mulher!
Dra. Claudia Gomes Padilla, especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington.