Texto publicado no Blog da Fertilidade á Maternidade.
Muitos casais se surpreendem com a dificuldade de engravidar naturalmente, pois a expectativa é que teriam um filho quando desejassem. A constatação da ausência de controle e a frustração deste desejo suscita uma gama variada de sentimentos, como tristeza, culpa, vergonha, revolta, entre outros. Afeta tanto as mulheres quanto os homens e traz repercussões na vida conjugal. Alguns casais vivenciam esta situação com uma maior união, mas outros apresentam divergências e conflitos por vezes difíceis de lidar.
Ainda hoje, algumas mulheres consideram a maternidade parte da natureza feminina e se sentem estigmatizadas quando não conseguem realizá-la. Muitas mulheres se sentem incompletas, impotentes e inferiorizadas por não conseguirem engravidar naturalmente como “todas as mulheres”. O período em que se submetem à investigação do diagnóstico e tratamentos também é marcado por uma gama variada de sentimentos. Os tratamentos para engravidar representam uma chance e esperança de ter o filho desejado, mas é um processo desgastante física e emocionalmente. Ao final do tratamento, quando não ocorre a gravidez desejada, evidencia-se a tristeza pela perda do filho desejado. Esta reação está dentro do que é esperado, pois em cada procedimento, o investimento emocional é enorme.
Quando se sucedem insucessos dos tratamentos, pode-se desenvolver um estado depressivo pelas perdas vividas, pela constatação da ausência de controle, assim como a incerteza se conseguirão ter o filho desejado. Esta condição pode se estender por um período de tempo maior e com intensidade que traga repercussões à vida profissional, conjugal e social.
Algumas mulheres desistem de dar continuidade aos tratamentos porque se veem sem condições emocionais para lidarem com mais expectativas e eventuais frustrações. É de extrema importância diferenciar uma reação de tristeza esperada pelo insucesso de um tratamento de um quadro depressivo. Nem toda tristeza é depressão. O psicólogo é um profissional que pode ajudar os casais a lidarem com todas as questões emocionais relacionadas à infertilidade e tratamentos, assim como identificar a existência de um quadro depressivo ou de ansiedade que necessite de intervenção medicamentosa.
Esta pesquisa refere-se à incidência de depressão pós-parto em tratamentos de FIV (Fertilização In Vitro), concluindo que tais índices não diferem daqueles de mulheres que engravidaram naturalmente. Em minha prática clínica, o receio de desenvolver um quadro de depressão pós parto não é comum nas mulheres que fazem FIV. Apesar do sofrimento estar muito presente, está associado à infertilidade, aos insucessos dos tratamentos e repetidas frustrações do desejo de terem o filho desejado. Acreditam que com a gravidez e o nascimento do filho, tal sofrimento irá desaparecer. Como a FIV está muito difundida em nosso meio, os tabus a este tipo de tratamento tem sido pouco frequentes, de acordo com minha prática clínica. Algumas mulheres sofrem por necessitarem de ajuda médica para engravidar, especialmente por se perceberem abaladas em sua “potência”, menos pelo tabu associados aos tratamentos.
O receio de desenvolver um quadro de depressão pós parto está presente em mulheres que farão FIV utilizando óvulos doados, que não é a população referida neste estudo. Comumente este receio relaciona-se à dificuldade de aceitação da infertilidade e da utilização de óvulos de uma doadora. Nestes casos, o preparo psicológico é de extrema importância para prevenir problemas futuros.
Dra. Helena Loureiro Montagnini, psicóloga do Grupo Huntington.