As alterações hormonais causadas pelo estresse podem influenciar a fertilidade de homens e mulheres. O período de tentativas, quando o casal se programa para ter um filho, costuma vir acompanhado de um quadro de tensão, ansiedade e expectativa, que pode agravar a situação.
Aproximadamente dois em cada cinco casais (39%) mencionam aumento do estresse e da tensão em seus relacionamentos no período em que tentam ter filhos, 42% dos homens e 26% das mulheres. Quando estão em um tratamento de reprodução assistida, 25% abandonam os procedimentos precocemente, devido ao impacto psicológico que pode decorrer deles.
“O estresse pode alterar as taxas hormonais, que afetam as funções ovarianas, modificam os ciclos menstruais e, em quadros mais avançados, cessam a menstruação. No homem, ele pode reduzir a quantidade de esperma e volume do sêmen, além de causar excesso de ansiedade, que resulta na falta de libido e de ereção”, explica a Dra. Karla Zacharias, médica especialista em reprodução humana do Grupo Huntington. Isso ocorre por reações no cérebro e no sistema nervoso, que agem para proteger o corpo de influências externas e podem acabar prejudicando o organismo.
Na contramão, uma visão conturbada da infertilidade – ainda vista como tabu ou motivo de vergonha – também pode contribuir para o estresse, o que impede que um tratamento psicológico seja realizado com naturalidade. A falta de apoio de familiares e pessoas próximas é bastante comum. “A população não se dá conta de que a infertilidade é uma questão de saúde como tantas outras. Não há culpados e nem motivo de vergonha para quem passa por esta situação”.
Efeito psicológico pode ser grave
Quando a pessoa descobre que é infértil acaba se questionando: O que há de errado comigo? É culpa minha? Por que isso está acontecendo? “Muitas vezes, o acompanhamento psicológico é importante para auxiliar o casal a lidar com esses anseios. Quando o quadro não é tratado, pode levar a outras doenças como a depressão ou o transtorno de ansiedade”, observa a especialista.
A médica destaca que as mulheres geralmente atravessam uma fase muito delicada após um ou dois anos de tentativas sem sucesso de engravidar. “Além de ficarem ansiosas, em um tratamento de reprodução assistida, por exemplo, o corpo pode ser submetido a uma carga alta de hormônios, que podem agravar o quadro emocional”.
Em casos mais graves, uma intervenção psiquiátrica com medicações pode ser necessária. Os pacientes de clínicas de reprodução assistida – que é o caminho encontrado por muitos casais que não conseguem engravidar naturalmente – costumam ser encaminhados a psicólogos especializados em lidar com quadros delicados. “Muitos preferem discutir seus conflitos pessoais em uma consulta e não em sua intimidade”, destaca a Dra. Karla.
Hábitos podem ajudar a diminuir estresse
Há algumas atividades que podem ser benéficas para reverter o quadro de estresse. Terapias como ioga, meditação, massagens e atividades intelectuais e de lazer costumam auxiliar casais estressados a manter o equilíbrio. A acupuntura é outra técnica que se torna cada vez mais popular no país e tem se confirmado como uma boa opção.
“É importante procurar ajuda com um objetivo comum. A divergência entre o casal é grande parte das causas de estresse e angústia ao longo desse período. Por isso, o principal fator ainda é o apoio mútuo. O processo de engravidar não é fácil e ter paciência e empatia ainda é a melhor saída para os feitos psicológicos”, esclarece a médica.
Dra. Karla Zacharias, médica especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington.